NATAL: DA FARTURA AO VAZIO
Final de ano chegou e
a principal preocupação dos brasileiros são as compras e festas. Parece normal não
fosse essa tradição uma cultura capitalista enraizada. Claro que o capitalismo trouxe
o melhoramento do sistema produtivo, mas trouxe também a cultura da
precificação e do desperdício.
E pra piorar além de
assimilar o “The American way of life” (Estilo de vida americano) o brasileiro
assimilou o desperdício para além dos bens materiais. Estou me referindo ao
posicionamento estanque que assumimos diante das decisões políticas e humanas.
Lembram-se dos
protestos que levaram milhares de brasileiros as ruas? Um período que parecia
ter despertado a indignação e cansaço do brasileiro com a corrupção, o
desperdício de dinheiro público e a péssima qualidade dos serviços públicos. O
descontentamento era tão grande que nem se podia identificar a prioridade, nem
o objetivo dos protestos. Mas o que pareceria um despertar, em pouco tempo se mostrou
um fogo de palha.
Digo isso porque as
reivindicações “atendidas” pelo governo: 1) A destinação dos royalties do
petróleo para saúde(50%) e educação (50%) que terminaram com pouco mais de 20%
para educação e 30% para saúde; 2) A punição dos corruptos do mensalão que
ocorreu com indignação do povo petista e de muitos brasileiros compadecidos com
o pobre Genuínio que foi punido por
colabora com o roubo do dinheiro público; 3) O programa Mais médicos que iria
suprir a carência de profissionais nas cidades do interior do Brasil e que até
hoje não se alterou muito; 4) Os gastos com o Copa do Mundo que segue com mais
atrasos o que encarece ainda mais as obras; 5) A reforma política que mais uma
vez foi manipulada e engavetada para nunca mais.
Os mesmos políticos
que se mostraram solidários aos protestos públicos mostraram seu real
compromisso com a manutenção das mamatas e do poder político no período de inscrições
para filiação partidária. Depois de uma montanha russa de insatisfação popular
a presidenta Dilma encerra o ano com uma aceitação ascendente e anuncia a
reforma do Sistema único de Saúde (SUS) nas propagandas televisivas, ela só
esqueceu de dizer onde essa reforma ocorreu porque continuamos vendo pessoas
penando nas filas de postos de saúde e morrendo abandonados.
O ano de 2013 está
acabando e não paramos de ver denúncias e discussões em redes sociais sobre
irregularidades em prefeituras do interior do Brasil, sobre crimes ambientais
acobertados por governos estaduais e municipais e sobre situações de violência
contra crianças e mulheres. Questões que mostram nosso Brasil caminhando em
direção a um poço sem fundo.
O pior de tudo é
saber que e a culpa de tudo isso é daqueles que pedem o fim da corrupção mas que
se indigna com a punição dos petistas, dos mesmos que permitem que políticos
negociem o dinheiro público em benefício próprio e depois os reelegem e também
é daqueles que são coniventes com prefeituras que justificam sua falta de empenho
na gestão anterior. O fato é que o brasileiro se indigna até o limiar do seu
interesse pessoal. É o famoso discurso “se me beneficia tá bom, mas se não me
beneficia eu reclamo e persigo até ser contemplado”.
Até quando o povo
brasileiro seguirá nesse ciclo de “toma lá da cá”, até quando vamos insistir
num discurso que existe apenas da boca pra fora? Assistindo a um documentário francês
sobre paisagens e meio ambiente, o diretor questionou a fé humana de uma maneira
muito particular e profunda que quero dividir com vocês. Ele mostrou imagens de
grandes peregrinações religiosas (Sírio de Nazaré, a peregrinação a Meca, lavagem
das escadarias do Bonfim, a Jornada da Juventude, viagens papais, festival
promessas entre outras) para comparar a força da fé com a defesa do meio ambiente.
De fato é comum vermos pessoas e vidas
dedicadas as religiões, mas não vemos essa fé ou esse mesmo ideal para defender
florestas, animais, mares, águas, desabrigados,crianças ou mulheres agredidas.
Talvez porque ainda não temos fé para defender o futuro do nosso planeta. E defender
o planeta é defender o uso devido dos recursos naturais, materiais e humanos,
ou seja, é lutar por um planeta socialmente justo,
politicamente democrático, ambientalmente sustentável e economicamente próspero.
Assim como ninguém
nasce ambientalista, as pessoas não nascem corruptas, elas se tornam
ecologistas ou corruptas de acordo com a transformação do mundo. É por isso que
o Natal precisa deixar de ser um período de festas, presentes e comemorações
para se tornar um período de reflexão, amadurecimento, reposicionamento,
solidariedade, catarse e simplicidade. Um sonho ainda longe de ser alcançado
por muito brasileiros...
Por: L. Gonçalo.
Foto: www.jornalbr.com
Boa matéria!!! Parabéns! Natal realmente tem que deixar de ser entrega de presentes, farra, matança de inocentes animais, hipocrisia pura: os mortos no centro da mesa e os vivos ao redor!!! Natal tem que ser reflexão!!!
ResponderExcluirBoa reflexão Maria José Nia. Obrigada por ler e comentar nossa postagem.
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