ENTENDA
O QUE ESTÁ POR TRAZ DA DISCUSSÃO DO USO DE ANIMAIS EM LABORATÓRIO
A invasão, na semana
passada, ao Instituto Royal, que começou com um
protesto contra o uso de animais como cobaias e terminou com a retirada de
todos os cães da raça Beagle que estavam no instituto gerou uma discussão polêmica. De um lado os defensores dos animais que denunciavam maus tratos e pediam o fim da prática, do outro a comunidade científica que afirma o cumprimento da lei e a necessidade de uso das cobaias.
Na mesma época do acontecido recebi
de um leitor o envio do vídeo “A Engrenagem” do Instituto Nina Rosa, que trata da indústria de proteína animal e dos seus impactos econômicos,
sociais e ambientais. O vídeo faz um discurso enfático sobre os impactos da
indústria da proteína animal e defende com veemência o vegetarianismo.
O ponto de convergência
entre o discurso do referido vídeo e o uso de animais em experimentos
científicos é o consumismo. No vídeo “A engrenagem” a argumentação se baseia na
informação. Os apresentadores utilizam dados reais para ilustrar o impacto da
indústria de proteína animal e faz um comparativo entre os índices de produção de proteína animal e de vegetais e vai além, também questiona nosso posicionamento ao defender algumas espécies animais em detrimento de outras.
Na invasão ao
Instituto Royal os manifestantes resgataram apenas os beagles. Se o instituto
lidasse exclusivamente com ratos cobaias será que a discussão seria a mesma? O que convém
nessa discussão não é nosso apreço pelos animais domésticos e sim nosso
posicionamento perante o nosso planeta. É triste pensar que um rato nasce e
vive exclusivamente para servir de teste para produtos que nós usaremos. A questão é: que diferença existe entre criar um animal para pesquisa e
criar animais que serão
posteriormente abatidos para nosso bel prazer? Nenhuma, ambas indústrias estão respondendo a uma demanda de consumo nossa e só nosso olhar e postura frente ao meio ambiente pode mudar esse cenário.
O uso de animais para pesquisa segue uma legislação e, em dados
estatísticos, é menos impactante que a produção de codornas. Além disso a ciência não escolhe usar cobaias por conveniência, este uso ainda é praticado porque não existe tecnologia suficiente para
dispensar o uso dos animais.
A discussão gerada
pelos beagles é um excelente gancho para um questionamento nacional sobre o
consumismo que é a ponta do iceberg dessa questão. As indústrias farmacêuticas e cosmética
só estão desenvolvendo mais produtos porque nós consumismo cada vez
mais. A indústria da proteína animal só cresce porque nós queremos mais carne e
nessa escolha do que consumir a maioria da população não pensa na cadeia produtiva, ela só considera o produto. A maioria das pessoas não pensa como aquilo foi
produzido, qual o processo de produção, que impactos teve na natureza. Nossa
única preocupação é quanto custa e quanto posso levar.
O vídeo do Instituo
Nina Rosa é um excelente ponto de partida para uma reflexão sobre nossas escolhas,
desejos e preocupações e deve ser amplamente discutido e divulgado. Mas antes
de nos pronunciarmos acerca do uso de animais para pesquisa acho necessário
questionarmos por que não nos é agressivo permitir que bois, vacas, ovelhas,
avestruzes, bodes, peixes, camarões, coelhos, aves e demais animais
comestíveis sejam criados unicamente para serem abatidos? Por que não podemos
cogitar o fato de um animal doméstico ser comido ou usado em laboratório, mas podemos
aceitar que bezerros sejam apartados das mães e alimentados exclusivamente com
leite, numa baia sem movimentação para não estimular os músculos e produzir um
bife muito macio e suculento (o chamando baby bife)?
Porque gostamos de
consumir, gostamos da comodidade, mas não temos a coragem de admitir nossa
impiedade e nosso senso de superioridade sobre a natureza. Assim fica mais fácil bradar por causas pouco discutidas e esquecer
a causa central: nosso posicionamento no planeta. Não estou fazendo um discurso de defesa do
vegetarianismo porque acho que é uma escolha pessoal, mas estou defendendo a escolha
sustentável.
Se você percebe os impactos da produção de proteína animal, então
tome uma atitude, reduza o consumo de carnes, comece a privilegiar os vegetais,
não coma determinados tipos de carnes. Se você percebe os impactos dos testes em animais então consuma produtos artesanais. Seja responsável, assuma seus atos até
porque é fácil pedir o fim das pesquisas em animais, mas duvido que alguém faça isso se tiver um familiar necessitando de uma esperança que está sendo desenvolvida num laboratório. É preciso romper o véu do discurso e partir para prática. A defesa aos animais deve ser ampla e coerente e não pode se restringir aos animais ameaçados de extinção ou aos animais domésticos.
Mais informações sobre testes em animais assista o debate da Globo News (aqui)
Entendam o que está
por traz da indústria de proteína animal:
Por: L. Gonçalo
Foto: G1 de Sorocaba e Jundiaí- Reportagem de Elisângela Marques
Vídeo: Instituto Nina Rosa retirado do You Tube
Nenhum comentário:
Postar um comentário