PROF. ANDRÉ TRIGUEIRO FALA SOBRE COMUNICAÇÃO E MEIO AMBIENTE
A Pontifícia Universidade
Católica do Rio e Janeiro (PUC-Rio) aumento os horizontes da comunicação ao implantar
em 2004 a disciplina Jornalismo Ambiental. A responsabilidade de definir o formato e conteúdo da disciplina ficou a cargo do jornalista e especialista em
Gestão Ambiental pela COPE/UFRJ, André Trigueiro, que se inspirou na então única disciplina da
área, da Profa. Ilza Giradi da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS),
para criar um conteúdo que trouxesse as importantes discussões teóricas da
área, mas que fosse mais pragmático na forma como lida com as situações do
cotidiano, dentro do ofício de jornalista.
A disciplina tem dois
momentos sendo o primeiro conceitual que envolve ecologia,
sustentabilidade, meio ambiente, visão sistêmica e desenvolvimento sustentável.
E um segundo momento voltado a cobertura de eventos relacionados a
esses assuntos como: mudanças climáticas, resíduos sólidos, água, transgênicos,
planejamento urbano entre outros.
Trata-se de uma disciplina eletiva da grade de comunicação aberta a todas as graduações do campus da Gávea. Para melhorar a incorporação da disciplina nos currículos de todos os cursos da PUC-Rio, a
disciplina sofreu uma alteração no nome em 2009, e passou a ser designada de Comunicação e Meio Ambiente. Até o momento a disciplina já teve mais de 350 alunos e vem contribuindo para o Projeto Universidade Sustentável da instituição.
Para discutir melhor a relação comunicação e meio ambiente vamos publicar um trecho da entrevista de André Trigueiro para a pesquisa “Formação ambiental em jornalismo: o
caso da PUC-Rio e da UFPB”, em 2010. Na ocasião o professor falou sobre a disciplina e de como se dá a relação comunicação
e meio ambiente.
Ambiente e
Diversidade: O jornalismo ambiental está entrando nos cursos de comunicação de
forma muito pontual, nas salas de aula, ou através de disciplinas como a sua. Você
acha que a aprendizagem através de conteúdo disciplinar é suficiente para formar
profissionais capacitados a abordagem ambiental?
André Trigueiro: "Não
e sim. Não no sentido de que jamais um curso poderá pretender-se autossuficiente
para capacitar a esse nível qualquer aluno. Sim no sentido de que o curso abre
o apetite do aluno para buscar outras leituras, cursos, contatos com pessoas,
pesquisas em internet e a partir daí tudo pode acontecer".
Ambiente e
Diversidade: Quais são as maiores dificuldades no processo de formação
ambiental?
André Trigueiro: "Culturais basicamente, porque a gente tá falando de um assunto controverso e em
alguns pontos subversivo. De assuntos que incomodam e as vezes a gente prefere
não acessar, porque eles dizem respeito
a uma serie de constrangimentos, contradições, paradoxos e necessidades de se
posicionar. O assunto ambiental é um assunto político, filosófico, religioso e
holístico. A
gente tá vivendo um mundo da dispersão. Essa garotada dessa faixa etária, ela
tá muito interligada na rede virtual e em diferentes mídias. Mas o assunto
ambiental te conecta com algo que você não pode fugir, como o ar que você
respira, o alimento que você ingere, á água que você consome, o lixo que você
descarta. Tudo isso é sensorial daí a importância de abordar conteúdos que lhe
diz respeito".
Ambiente e
Diversidade: Pra você como se dá a relação comunicação e meio ambiente?
André Trigueiro: "Filosoficamente comunicação é meio ambiente. Tudo no universo se comunica. Tudo
está em comunicação sensorial ou não sensorial. Nós não conhecemos todas as
formas de comunicação que o universo estabeleceu para existir e se sustentar.
Então, filosoficamente, o meio ambiente entendido como tal, ele só existe em
função de uma comunicação que flui. O geógrafo americano vencedor do Prêmio
Pulitzer de Literatura, Jerry Diamonds, no livro: 'Colapso: como as sociedades
escolhem o sucesso ou o fracasso', observa que várias civilizações do passado
desapareceram do mapa a partir do momento que deixaram de ser sustentáveis.
Elas exauriram o solo fértil, elas destruíram florestas e os aquíferos
desapareceram. Jerry Diamonds observa o seguinte: nossa civilização atual tem dois trunfos importantíssimos para não
repetir os erros das outras. Primeiro nós temos a
arqueologia que permite observar os erros dos outros. Ou seja, os estudos arqueológicos podem estabelecer
uma cadeia de eventos sucessivos. Segundo, nós temos a comunicação. Comunicar a
necessidade de não repetir os erros dos nossos antepassados e sinalizar os
caminhos que a gente deve seguir para não recorrer no mesmo equívoco. Então
comunicação é sobrevivência, é a capacidade de usar todas as tecnologias de
hoje, em escala global, em nosso favor. De que maneira?
Não banalizando o uso dessas ferramentas e nos comunicando melhor naquilo
que é interessante a nossa espécie, reduzindo pegada ecológica, consumindo de
forma consciente e descobrindo os meios de não repetir os erros daqueles que
desapareceram".
Como se vê a relação comunicação e meio ambiente é natural e a inclusão da discussão ambiental, seja na forma de debate ou de disciplina, é de fundamental importância na formação dos novos profissionais que precisam entender como funciona o pensamento sistêmico e como adaptar suas áreas de conhecimento para um mundo que precisa buscar a sustentabilidade. São experiências como a do Prof. André e da Profa. Ilza Girardi que fazem diferença nas redações de rádios, TVs, sites e jornais.
Por: L. Gonçalo.
REFERÊNCIA:
GONÇALO, Luciana L. B. Formação Ambiental em Jornalismo: o caso da PUC-Rio e da UFPB. Dissertação de Mestrado aprovada pelo Programa Regional de Desenvolvimento em Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba (PRODEMA/UFPB). João Pessoa, 2011. (Em processo de publicação).
FOTO: L. Gonçalo.
Muito frutuoso, Lu. Parabéns mesmo.
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